Dois Papas de Fernando Meirelles, irretocável/crítica
Dois Papas (The Two Popes)
Fernando Meirelles (O Jardineiro Fiel, Ensaio Sobre a Cegueira) assina a direção dessa ficção/realidade e nos convoca a contemplar com ele, e sob sua ótica a vida de dois importantes clérigos da igreja católica.
Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes, Westworld) veste o personagem o papa Bento XIV, que para o grande público é um papa distante, frio e nada carismático que trava diálogos com o então arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio interpretado por Jonathan Pryce (Stigmata, Game of Thrones), as questões ganham rostos e se humanizam, dois antagonistas, dois homens diferentes, um severamente sério, comedido e com o fardo de acertar, o fardo das decisões que afetam a igreja, o papa, o representante de Pedro.
Percebemos o abismo estampado em ambos tanto em Jorge Bergoglio (Pryce) como em Bento XIV (Hopkins) onde uma conversa já seria algo impossível.
Dois Papas chama- nos a apreciar e a fitar discussões acirradas, não só por estarem ali nos corredores de Roma, Vaticano ou em sua residência de veraneio, mas por nos mostrar o quanto dois homens podem se humanizar a cada cena, a cada não concordância.
Podem fazer concessões, podem ceder ao que o outro pensa tudo muito apreciado, muito estudado, e muito esperado.
Vimos o conclave reunido, mergulhamos nos dias importantes de Roma, onde suas escolhas fazem reformas, conseguimos entender não com olhar de reprovação, mas com o olhar de Fernando Meirelles, um filme grandioso por si só!
Grande por nos desvendar um pouco o papa Bento XIV, um papa comedido sim, que para muitos cometeu erros, ou tentou proteger os seus pastores, mas extremamente educado, fino e tímido, com grandes responsabilidades.
E ao seu lado o arcebispo de Buenos Aires (Pryce) um padre do povo, onde caminha com os seus, desprovido de ambição, e carismático.
Dois homens extremamente diferentes, onde um reprova o outro, mas onde os diálogos acontecem, onde a mensagem é entregue a nós e conseguimos vislumbrar o carisma, a amizade, o respeito.
Conseguimos entender e escutar, com eles e através deles o silenciar as questões diversas.
Algo hoje em dia gritado onde o que eu penso é a grande verdade absoluta, onde o meu ego não aceita ser diminuído…
Irretocável por vermos cenas simplesmente humanas, de humildade, parece redundante afirmar tanta humanidade, onde ficamos a nos perguntar se realmente tudo aconteceu como vimos no filme.
Muito tem de ficção e muito tem de fato, e tudo foi extremamente bem orquestrado, a música, a fotografia, os diálogos super inteligentes, tudo grandioso como dissemos.
Nada foi de (fato) fácil para que Dois Papas existisse!
Podemos imaginar o lado da ficção que precisou existir, nos convencer da realidade?
Vamos abraçar esse longa metragem rico em todos os seus detalhes, é o filme que nos cativa, e rimos com eles, ficamos curiosos de suas histórias.
“Deus corrige os erros de um Papa, através de um novo Papa”, frase do personagem de Bento XVI.
Considerações:
Dois Papas é um filme para todo o público, onde a ficção ganha a realidade em sua totalidade, onde saímos da cadeira do cinema convencidos dessa amizade, desse ajuste de diálogos, da humanidade desses dois personagens, onde a torcida é unânime: Vimos Bento XIV um homem preocupado, sedento de paz, de ouvir Ele, e quase feliz com a visita do cardeal Jorge Bergoglio e apreciamos um cardeal as voltas com o seu passado, o seu chamado, as suas memórias.
As cenas reproduzidas em estúdio, como a Capela Sistina é de uma fidelidade maravilhosa, como a residência de veraneio papal.
A riqueza dos detalhes, do conclave reunido, o figurino, a fotografia, a música é espetacular!
O roteiro é de (Anthony McCarten, A Teoria de Tudo), excelente, exato nos prendendo diálogo a diálogo!
Confiram esse excelente filme,
É para todos.
nota:8,9
Conferimos a crítica de Leonardo Boff (teólogo, filósofo e membro da Comissão Internacional da Carta da Terra) e nos certificamos do perfil tanto de Bento XVI como do papa Francisco, onde o teólogo nos apresenta Bento XVI, sendo tímido, extremamente fino e educado, reservado sim, mas jamais um pastor não preocupado com o seu rebanho, e incapaz de levantar a voz para quem quer que seja.
Segue o link abaixo, vale a leitura.
Dois Papas: dois modelos de homem e dois modelos de Igreja
Indicações:
Dois Papas foi indicado a quatro categorias: melhor filme, melhor ator (Pryce), melhor ator coadjuvante (Hopkins) e melhor roteiro (Anthony McCarten).
Golden Globe Awards
O filme estreou no Festival de Cinema de Telluride em 31 de agosto de 2019 foi lançado nos Estados Unidos em 27 de novembro de 2019, no Reino Unido em 29 de novembro de 2019, e em streaming digital em 20 de dezembro de 2019, pela Netflix.
Elenco:
- Anthony Hopkins como Papa Bento XVI
- Jonathan Pryce como cardeal Jorge Mario Bergoglio, o futuro Papa Francisco
- Juan Minujín como o jovem Jorge Mario Bergoglio
- Sidney Cole como cardeal Peter Turkson
- Lisandro Fiks como padre Franz Jalics
- Thomas D. Williams como jornalista americano
- Maria Ucedo como Esther Ballestrine
- Emma Bonino como A própria
Direção: Fernando Meirelles
Produção:Dan Lin, Jonathan Eirich e Tracey Seaward
Roteiro: Anthony McCarten
Baseado emThe Pope de Anthony McCarten
Gênero: drama, comédia biográfico
Música: Bryce Dessner
Cinematografia: César Charlone
Edição:Fernando Stutz
Companhia(s) produtora(s) Netflix
Distribuição: Netflix
Um pouco sobre Fernando Meirelles
Foi nomeado ao Globo de Ouro de melhor diretor em 2005 por O Jardineiro Fiel, que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pela atuação de Rachel Weisz. Ele também dirigiu a adaptação do romance de José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira lançado em 2008, e o filme 360 de 2011, além de encabeçar a equipe artística que produziu a cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016.
Seu filme de maior sucesso é Cidade de Deus lançado em 2002 pela Lumière no Brasil.
Por seu trabalho neste filme, acabou sendo nomeado ao Oscar de melhor diretor. Em 2015, tornou-se supervisor artístico da Globo Filmes.
Cursou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo durante a década de 1980.Diferente dos colegas de classe, em seu trabalho de conclusão do curso, Meirelles apresentou um filme. Em conjunto de quatro amigos: Paulo Morelli, Marcelo Machado, Dário Vizeu e Beto Salatini, Meirelles fundou uma produtora cinematográfica intitulada “Olhar Eletrônico”.
Ano | Título |
---|---|
1998 | Menino Maluquinho 2 – A Aventura |
2001 | Domésticas |
2002 | Cidade de Deus |
2005 | O Jardineiro Fiel |
2008 | Ensaio Sobre a Cegueira |
2011 | 360 |
Brasil Animado (dublagem) | |
2012 | Elena (produção executiva) |
2014 | Rio, Eu Te Amo |
2019 | Dois Papas |
Televisão
Ano | Título | Emissora |
---|---|---|
1983 | Ernesto Varela, o Repórter | Rede Globo |
1989 | Rá-Tim-Bum | TV Cultura |
2013 | A Verdade de Cada Um (produção) | National Geographic Channel |
2015 | Os Experientes | Rede Globo |
Felizes para Sempre? | ||
2016 | Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016 |
Prêmios e indicações
Ano | Prêmio | Categoria | Trabalho nomeado | Resultado | |
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2002 | Grande Prêmio do Cinema Brasileiro | Melhor Filme | Domésticas | Indicado | |
2003 | BAFTA Awards | Melhor Filme Estrangeiro | Cidade de Deus | Indicado | |
Grande Prêmio do Cinema Brasileiro | Melhor Diretor | Venceu | |||
Melhor Filme | Venceu | ||||
2004 | Óscar | Melhor Diretor | Indicado | ||
2006 | Golden Globe Awards | O Jardineiro Fiel | Indicado | ||
BAFTA Awards | Melhor Filme Britânico | Indicado | |||
Melhor Diretor | Indicado | ||||
2008 | Festival de Cannes | Palma de Ouro | Ensaio Sobre a Cegueira | Indicado | |
2009 | Grande Prêmio do Cinema Brasileiro | Melhor Filme | Indicado |