Canal Brasil | Estreia da “Mostra Academia de Cinema — Indicados 2017” nesta segunda, 28.
Canal Brasil exibe “Mostra Academia de Cinema” com seis indicados ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, a partir da segunda, 28.
Num esquenta para a 16ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, que acontece no dia 5 de setembro no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Canal Brasil apresenta o especial “Mostra Academia de Cinema — Indicados 2017”, com seis filmes — cinco coproduções do canal — que concorrem à premiação.
A mostra começa na segunda-feira, dia 28 de agosto, com “BR 716”, de Domingos Oliveira, e termina na quinta-feira, dia 31 de agosto, com “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho.
São ficções e documentários vencedores de honrarias em grandes festivais no país e no mundo, em um panorama do que há de melhor na produção nacional.
“BR 716” (2016) (90’)
– Horário: Segunda, dia 28, às 19h45
– Classificação: 14 anos
– Direção: Domingos Oliveira
Sinopse: As tomadas iniciais explicam rapidamente ao espectador o enredo do filme. Uma locução conta as memórias do diretor em 1963, quando Domingos morava no endereço que dá nome à produção. Ele espelha sua figura em Felipe (Caio Blat), seu alter ego. O protagonista é um escritor frustrado cujas desilusões profissionais e amorosas são descontas em álcool e festas realizadas nos míticos aposentos deixados para ele pelo pai (Daniel Dantas).
O apartamento é o ponto de encontro e praticamente o único cenário dessa história. As salas e quartos estão sempre repletas de amigos de Felipe, em sua maioria, jovens de classe média e alta experimentando um momento de liberdade pouco tempo antes do regime militar cercear direitos básicos dos brasileiros. O protagonista discorre sobre suas amizades – como a perturbada Isabel (Glauce Guima), dona do inusitado costume de recitar poesias em cima de uma escada no auge das festas – e amores, como Gilda (Sophie Charlotte), uma musa inspiradora de seus dias. Em meio a tanta gente alterada pela bebida e excêntrica por natureza, o escritor lembra passagens de seu passado, desde as celebrações, passando pelas tiradas cômicas até os momentos de decepção com os próprios fracassos.
A coprodução do Canal Brasil foi a grande vencedora da 44ª edição do Festival de Gramado, realizada em 2016, de onde saiu com os Kikitos de melhor filme, direção, trilha musical e atriz coadjuvante (Glauce Guima).
No elenco, Caio Blat, Sophie Charlotte, Pedro Cardoso, Daniel Dantas e Álamo Facó.
“EU SOU CARLOS IMPERIAL” (2015) (89’)
– Horário: Segunda, dia 28, à 0h20
– Classificação: 16 anos
– Direção: Renato Terra e Ricardo Calil
Sinopse: A coprodução do Canal Brasil apresenta as diversas facetas dessa controversa e brilhante figura da cultura no país, em especial da música. Imperial foi responsável por descobrir e lançar alguns dos nomes mais importantes da MPB como Roberto Carlos, Tony Tornado, Jerry Adriani, Wilson Simonal, Elis Regina e Tim Maia, entre outros. Seu repertório passava por sucessos da Jovem Guarda como Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo, gravada por Erasmo Carlos, e pela mistura de samba e pilantragem de Mamãe Passou Açúcar em Mim, eternizada na voz de Wilson Simonal. Sua brilhante capacidade de produzir hits caminhava lado a lado com sua canalhice, e o documentário mostra as muitas vezes em que o retratado roubou composições alheias e até registrou canções de domínio público, como Meu Limão, Meu Limoeiro.
Cada depoimento constrói um plural mosaico das várias facetas desse controverso personagem. Dois de seus filhos – foram 11, com sete mulheres diferentes – rememoram a conturbada questão da paternidade. Roberto Carlos e Tony Tornado explicam como o conheceram e contam as muitas histórias vividas. Com um extenso material de arquivo, os diretores recuperam entrevistas concedidas por Imperial em diversos momentos. Sempre sedutor, ele comenta sua carreira artística, a eleição como vereador no Rio de Janeiro – foi o político mais votado no pleito de 1982 –, a criação do Partido Tancredista Nacional (PTN) e sua participação como locutor nas apurações da Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) do carnaval carioca. Tudo isso com o indefectível ar de cafajeste responsável por seu charme.
“CICERO DIAS — O COMPADRE DE PICASSO” (2016) (77’)
– Horário: Terça, dia 29, às 19h45
– Classificação: 10 anos
– Direção: Vladimir Carvalho
Sinopse: Escolhido como melhor roteiro e direção na mostra Câmara Legislativa do Festival de Brasília em 2016, o filme tem início no mítico Cemitério de Montparnasse, local do repouso eterno de intelectuais como Samuel Beckett, Charles Baudelaire, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, onde Cicero também está enterrado. Seu túmulo atrai visitantes de todos os lugares do mundo e seu epitáfio traz como mensagem os dizeres Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife, título de um de seus principais trabalhos. Após essa breve demonstração da relevância internacional da obra do protagonista, a direção inicia o resgate cronológico da vida do artista plástico. Filho de um clã tradicional, ele levava às telas o dia a dia do engenho Jundiá, propriedade da família, a primeira inspiração para suas pinceladas.
O interior do estado nordestino deixa de ser o cenário da trajetória do pintor na década de 1920, quando ele desembarca no Rio de Janeiro trazendo quadros exalando cores quentes e vivas, figuras femininas sensuais e elementos da terra e do campo. Logo após sua chegada na cidade, começa a conviver com ícones do modernismo nacional, em alta à época, como Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Manuel Bandeira, e inicia os estudos na Escola Nacional de Belas Artes. Pouco tempo depois, lança o revolucionário painel Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife, mas o Estado Novo de Getúlio Vargas faz com que Cicero aceite a sugestão de Di Cavalcanti e siga a Paris. Na cidade luz, ele é apresentado ao surrealismo e ao abstracionismo e torna-se amigo dos espanhóis Miró e Picasso, além do poeta francês Paul Éluard.
“BOI NEON” (2016) (100’)
– Horário: Terça, dia 29, à 0h15
– Classificação: 16 anos
– Direção: Gabriel Mascaro
Sinopse: Iremar (Juliano Cazarré) trabalha nos bastidores das chamadas vaquejadas, esporte cruel e tradicional do árido sertão nordestino no qual os peões devem emparelhar com um boi e derrubá-lo antes de atingir uma certa marca de cal riscada no saibro das arenas. Seu ofício consiste em preparar o bicho para entrar no curro, espalhando areia em seus rabos para auxiliar a puxada dos boiadeiros e facilitar o deleite de plateia em ver a fera caída. O sonho de sua vida, no entanto, corre bastante longe da realidade dessa versão diminuída de um rodeio, e ele passa os dias a pensar e desenhar os modelos de uma grife de moda feminina. O matuto fantasia sobre labutar no fabrico de roupas do Polo de Confecções do Agreste, especializado em trajes de banho – apesar da realidade local ser formada por barro e poeira, mais de 100 quilômetros distante da costa.
“CINEMA NOVO” (2016) (80’)
– Horário: Quarta, dia 30, às 19h45
– Classificação: 12 anos
– Direção: Eryk Rocha
Sinopse: A obra é um grande passeio pela história da nossa sétima arte. Pai do diretor e figura crucial na história da filmografia nacional, Glauber Rocha abre o roteiro confirmando a relevância de Humberto Mauro, cuja obra é comparada pelo cineasta baiano ao trabalho de Di Cavalcanti e Candido Portinari, e fala sobre a consciência política e revolucionária dos realizadores do período. Joaquim Pedro de Andrade lembra as tonalidades realistas trazidas às câmeras, em uma tentativa de dissertar sobre os problemas do povo brasileiro, tão pouco representado à frente das lentes. Leon Hirszman relembra o momento em que conheceu Nelson Pereira dos Santos e as muitas sessões assistidas de Rio, Zona Norte (1957), filme seminal do cineasta paulistano.
As entrevistas resgatadas por Eryk Rocha são verdadeiras preciosidades do cinema brasileiro, sempre complementadas por imagens dos filmes debatidos pelos cineastas. Carlos Diegues comenta a vontade dos realizadores em descobrir uma linguagem brasileira de contar a história e as questões do país e como a amizade entre os idealizadores foi fundamental para conceder uma boa dose de solidez ao movimento. Há ainda depoimentos de Luiz Carlos Barreto, Ruy Guerra, Paulo César Saraceni, David Neves, Nelson Pereira dos Santos, Orlando Senna, Arnaldo Jabor e Walter Lima Jr., entre tantos outros, em observações de suas perspectivas sobre esse momento singular e seu legado para as gerações futuras.
Coproduzida pelo Canal Brasil, a produção foi recentemente premiada com uma das principais láureas do mundo cinematográfico, o Olho de Ouro na edição de 2016 do Festival de Cannes.
“MÃE SÓ HÁ UMA” (2016) (90’)
– Horário: Quarta, dia 30, à 0h15
– Classificação: 16 anos
– Direção: Anna Muylaert
Sinopse: Pierre (Naomi Nero) é um adolescente de 16 anos de perfil nada convencional e desobediente às convenções tradicionais de gênero. Com um visual andrógino, ele toca em uma banda de rock, se veste com roupas femininas, pintas as unhas, usa maquiagem no rosto e demonstra interesse por ambos os sexos, mas é acompanhado por meninas na maioria das vezes. Ele mora com a mãe, Aracy (Dani Nefussi), e a irmã, Jacqueline (Laís Dias), em um apartamento pequeno e sem muito conforto. A vida não lhe traz grandes emoções, e ele demonstra o típico comportamento rebelde de um jovem aparentemente perdido. Seu cotidiano é radicalmente alterado quando um oficial de justiça bate à porta de sua casa alegando que sua mãe, na verdade, o raptou da maternidade ainda bebê, e seus pais biológicos o procuram desde então.
A revelação altera radicalmente o dia a dia do jovem. Aracy é presa e, enquanto aguarda julgamento, Pierre é encaminhado por uma assistente social à casa de seus pais biológicos, um casal bem-sucedido formado Matheus (Matheus Nachtergaele) e Glória (também interpretada por Dani Nefussi), onde mora Joca (Daniel Botelho), seu novo irmão – Jacqueline também é levada pelos progenitores reais. O sonho do reencontro com o filho há décadas distante, afastado por um crime bárbaro, é, ao mesmo tempo, um pesadelo para o adolescente quando a euforia por recuperar o tempo perdido transforma-se em sufocamento emocional. Ansioso, os consortes tentam recomeçar a vida e incluir o menino em um cotidiano já pré-estabelecido, muitas vezes forçando seus próprios costumes e hábitos na rotina dele. Com apenas 16 anos, ele é novamente roubado por estranhos persistentes em chamá-lo de filho.
“MENINO 23 — INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL” (2016) (90’)
– Horário: Quinta, dia 31, às 19h45
– Classificação: 10 anos
– Direção: Belisário França
Sinopse: O historiador Sidney Aguilar Filho falava sobre a 2ª Guerra Mundial em sala de aula quando foi interrompido por uma aluna. A menina afirmou ter visto a suástica, símbolo do regime de Adolf Hitler, cravada em tijolos de uma propriedade da família em Campina do Monte Alegre, no interior de São Paulo. O comentário da moça chamou atenção do estudioso, e ele decidiu investigar a fundo a denúncia. As descobertas foram chocantes. O professor deflagrou a triste memória, ocultada por praticamente um século, de uma espécie de campo de concentração nazista comandado por brasileiros que recrutaram crianças órfãs negras para trabalhos forçados. Publicada em 2011, a tese do pesquisador é o norte do guião do documentário de Belisario Franca, vencedor dos prêmios de melhor roteiro e montagem no Cine Ceará em 2016.
A coprodução do Canal Brasil remonta as etapas do método de pesquisa do historiador em sua busca por evidências para esse passado nefasto da história brasileira. Os indícios mencionados pela aluna levaram o professor à Fazenda Cruzeiro do Sul, no interior do estado de São Paulo. Ao chegar à propriedade, o experto conhece a figura responsável por pavimentar a estrada para os seus estudos. Aloísio Silva, um homem de 93 anos, morador do local desde a infância. Questionado pelo docente sobre suas memórias no sítio, ele rapidamente compartilha uma nova informação ainda mais preocupante quando colocada lado a lado com os símbolos nazistas. Ele fez parte de um grupo de 50 meninos negros órfãos, moradores do Educandário Romão Duarte, no Rio de Janeiro, levados ao local na década de 1930 pelos industriais da família Rocha Miranda para efetuar trabalhos em regime análogo ao de escravidão no âmbito rural.
A união das duas referências adquiridas ligou um sinal de alerta para o professor, imaginando que os indícios não poderiam ser meras coincidências. O filme registra as conversas do pesquisador com Aloísio, e a cada depoimento, o sobrevivente revela casos surpreendentes. O “Menino 23” – cada um dos jovens era identificado por um número de acordo com sua altura – narra os abusos sofridos no campo, as promessas de uma vida tranquila na área rural, as torturas de capatazes cruéis e o exaustivo trabalho cuidando de plantações e animais em troca de apenas um prato de comida. Em seus relatos, o entrevistado reconhece um companheiro de infância: Argemiro Santos. Depois de muita busca, Sidney consegue encontrar mais uma testemunha dessa atrocidade na cidade de Foz do Iguaçu, no sul do país, e os relatos confirmam o ideal nazista e escravocrata da fazenda.
“AQUARIUS” (2016) (140’)
– Horário: Quinta, dia 31, à 0h15
– Classificação: 16 anos
– Direção: Kleber Mendonça Filho
Sinopse: O filme é dividido em três capítulos. De início, o roteiro leva o espectador ao Recife dos anos 1980. Na sala do apartamento com vista para o mar de Boa Viagem é realizada uma festa em comemoração aos 70 anos de Tia Lúcia (Thaia Perez). Após a saudação coletiva, Adalberto (Daniel Porpino) faz um discurso em tributo à esposa, Clara (Bárbara Cohen), em reabilitação de um câncer de mama – o primeiro ato leva o nome de “O Cabelo de Clara” em referência as madeixas curtas da protagonista, recuperando-se da calvície, efeito colateral do agressivo tratamento à doença.
A trama salta da década de 1980 para o presente, sob o título de “O Amor de Clara”. A jornalista e escritora (agora vivida por Sônia Braga) é viúva há quase 10 anos e mora sozinha no mesmo apartamento da festa. A residência ainda guarda os antigos traços da decoração de tempos anteriores, com estantes repletas de livros e discos de vinil, mas ela está sozinha não apenas em casa, mas também no prédio. Seus vizinhos cederam ao assédio da Construtora Bonfim, representada por Diego (Humberto Carrão) e Geraldo (Fernando Teixeira), interessada em comprar todos os aposentos para demolir o edifício e construir um projeto mais moderno, de acordo com o padrão luxuoso dos imóveis da orla. A única remanescente se recusa a aceitar a oferta dos engenheiros, e mesmo com a insistência da empreiteira, nem ao menos topa ouvir uma proposta.
A câmera acompanha o cotidiano da protagonista propondo questionamentos políticos e sociais a cada atividade de seu dia. A jornalista parece flertar com o salva-vidas Roberval (Irandhir Santos) em suas idas à praia. Ao lado das amigas em uma noitada, a direção discorre sobre a dificuldade para retomar a vida amorosa aos 65 anos, e o tabu relacionado à nudez e sexualidade de uma mulher submetida a uma mastectomia. A construtora mostra a inescrupulosa pressão das grandes empresas despreocupadas com a manutenção de uma tradição em prol do lucro possível em um imóvel de luxo. Há ainda os problemas familiares, focados principalmente no relacionamento conturbado com a única filha, Ana Paula (Maeve Jinkings), e uma breve crítica ao universo de traficantes de drogas oriundos da elite de uma grande cidade.