Em destaque, o lançamento do livro “Entre Pássaros e Cavalos- Muybrige, Marey e o Pré-Cinema”, de Raimo Benedetti, que acontece dia 08 de novembro, ás 19 h, no Rio de Janeiro.
Na Sede das Cias (Rua Manuel Carneiro, 2-26 – Lapa), o videoartista brasileiro Raimo Benedetti apresenta performance seguida de bate-papo com o artista visual e pesquisador André Parente e com o cineasta Bebeto Abrantes. Na ocasião, também será lançado o livro Entre Pássaros e Cavalos, de Benedetti, com desconto especial (de R$ 120 por R$90).
“Entre Pássaros e Cavalos – Muybridge, Marey e o Pré-Cinema” é uma biografia dupla que narra a vida desses dois personagens às vésperas do lançamento do cinematógrafo, em 1895. Esta data é frequentemente reconhecida como o surgimento do cinema, mas hoje se sabe que este não foi um feito isolado e seu deu graças ao trabalho de um grupo de pesquisadores internacionais dentre os quais se destacam Muybridge e Marey.
Eles foram importantes personagens do período chamado de pré-cinema, e são associados como sendo os responsáveis por promover à fotografia estática a condição de fotografia cinética.
Lançamento, no Rio de Janeiro
Obra: Entre Pássaros e Cavalos- Muybrige, Marey e o Pré-Cinema
Ano: 2018
Páginas: 256
Formato: 23,2cm X 16,6cm
Editora: SESI-SP Editora
Autor: RAIMO BENEDETTI
Data: 08/11/18 (quinta-feira), a partir das 19h
Biografia dupla narra o processo histórico da fotografia no século XIX e seu papel na constituição do cinema. Livro vem acompanhado de filmes inéditos.
O anos de 1830 e de 1904 marcam o nascimento e a morte de duas figuras emblemáticas da arte e da ciência do século XIX: de um lado, o fotógrafo anglo-americano Eadweard James Muybridge e do outro o fisiologista francês Éttiene-Jules Marey. Quando se conheceram aos 51 anos de idade, se deu um explosivo encontro entre a arte-tecnologia com a ciência experimental e o resultado dessa combinação criou condições para a criação dos fundamentos técnicos do cinema.
Entre pássaros e cavalos – Muybridge, Marey e o Pré-Cinema, é uma biografia dupla que narra a vida desses dois personagens às vésperas do lançamento do cinematógrafo, no ano de 1895. Esta data, é frequentemente reconhecida como o surgimento do cinema, mas hoje se sabe que este não foi um feito isolado e seu deu graças ao trabalho de um grupo de pesquisadores internacionais dentre os quais se destacam Muybridge e Marey. Eles foram importantes personagens do período chamado de pré-cinema, e são associados como sendo os responsáveis por promover à fotografia estática à condição de fotografia cinética.
O livro conduz o leitor à duas viagens independentes. Tirando proveito das sincronias de idades de seus personagens, o texto narra em paralelo a vida desses dois homens orientado pelos aspectos profissionais de suas carreiras. Os capítulos se interpolam em cenários paradigmáticos do século XIX: ora em São Francisco, cidade onde Muybridge escolheu para viver no “tempo do velho oeste”, e ora em Paris, epicentro da ciência e cultura na Belle Époque, por onde Marey circulava com desenvoltura. A estrutura alternada do livro dá a possibilidade de escolha, a leitura pode acompanhar o relato de cada personagem independente ou se dar através do conjunto alternado.
Quando Muybridge foi desafiado, em 1878, a fotografar os cavalos em pleno movimento, a fotografia ainda era um processo moroso. Isolado na Califórnia, teve que desenvolver por seus próprios meios os recursos da fotografia instantânea e sequenciada. Suas sequências de imagens de cavalos à uma velocidade de 68km/h exibiram pela primeira vez fotografias registrando as diversas fases do movimento tempestuoso. As séries de instantâneos que Muybridge fez de animais e seres humanos são incunábulos da história do cinema e se mantém como provas da tentativa do homem de aprisionar o tempo por meio de imagens.
Quando Marey viu as fotografias seriadas de Muybridge, percebeu nelas uma perfeita serventia para o estudo científico do movimento. O professor do Collège de France era um especialista na análise do movimento dos corpos, havia criado uma série de instrumentos capazes de fazer medições daquilo que chamou de “máquina animal”. As fotografias de Muybridge inspiraram Marey a utilizar a câmera fotográfica como um instrumento de laboratório e desse modo o famoso fisiologista criou a cronofotografia, técnica sem a qual não haveria o aparato cinematográfico.
A leitura de Entre Pássaros e Cavalos propõem uma visão abrangente do contexto de formação da técnica cinematográfica no século XIX. O ponto de partida está na década de 1830, quando uma série de dispositivos para estudos da visão foram criados. Neste período, surgiu a fotografia (1839), a experiência 3D do estereoscópio (1833) e os objetos cinéticos como o zootrópio (1835). Marey e Muybridge vão se incorporar à história pré-cinematográfica entre 1870 e 90 e farão os principais aprimoramentos para que a fotografia em vidro se repousasse sobre uma película de celulóide.
As biografias de Muybridge e Marey quando postas lado a lado, evidenciam a interferência que tiveram não somente na história das mídias do século XIX, mas também na constituição do mundo moderno. Marey e Muybridge estão intimamente ligados aos processos de transformação social e modernização que marcam o período de apogeu desenvolvimentista da revolução industrial. A influência de seus trabalhos extrapolou os limites da arte e ciência se inscrevendo dentro do contexto da produtividade mecânica. Em última instância, os pássaros e cavalos que dão nome ao título do livro, representam o desejo do homem de dominar o mundo real, seja por terra ou pelos ares, e não por acaso o trabalho de ambos servirá para as pesquisas posteriores quando da invenção de carros e aviões.
Apesar do reconhecimento dos trabalhos de Muybridge e Marey, e das inúmeras publicações e estudos lançados sobre eles no exterior, eles ainda permaneciam inéditos no Brasil. Entre Pássaros e Cavalos é o primeiro livro em língua portuguesa sobre ambos os personagens. Ricamente ilustrado, o livro conta com mais de 200 imagens reunindo um dos mais fascinantes acervos da história da fotografia. Além disso, o livro vem acompanhado por uma série de vídeos especialmente produzidos por Benedetti. O autor, que é um videoartista, visitou o acervo dos museus de Kingston upon Thames, na Inglaterra e o Musèe Marey, na França, onde coletou imagens e fez entrevistas. Os vídeos são acessados por QR Code (fig. ao lado) podendo ser assistidos em celulares, tablets ou computadores e contam com a participação de especialistas como Stephen Herbert, Marta Braun e Laurent Mannoni, diretor técnico e científico da Cinemateca Francesa.
Raimo Benedetti
É videoartista, montador de filmes cinematográficos e pesquisador. Dedica-se ao estudo da arqueologia das mídias desde 2010. Ganhador do Rumos nos anos 2009 e 2013, foi bolsista do centro de arte contemporânea Arteleku na Espanha. Há cinco anos organiza o curso Pré-Cinema, que ministra regularmente no Atelier Paulista (São Paulo), tendo passado por universidades e instituições artísticas como USP, Instituto Tomie Ohtake, SESC e Barco. Reconhecido por seu trabalho com cinema experimental, já produziu dezenas de curtas compilado nos DVD Vídeo Experimental lançado em 2015 pela Lume Filmes. Como montador de filmes trabalhou com Fernando Meirelles, Cao Hamburger, Tata Amaral entre outros tendo ganhado prêmios de melhor montagem nos festivais de Gramado e Guarnicê. Benedetti criou em 2013 o espetáculo Cinema das Atrações sobre os primórdios do cinema, que estreou no Festival Live Cinema.
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Pontos de destaque no livro:
A despeito de serem bem difundidas, as vidas e obras de Marey e Muybridge ainda guardam lacunas que veem sendo descobertas o que cria condições para que paire sobre eles certas histórias e lendas que seguem sendo propagadas.
Não são cineastas
É um erro afirmar que Muybridge ou Marey foram cineastas. Eles foram pioneiros em promover a decomposição fotográfica de uma ação no tempo, mas falharam na tentativa de reproduzir suas sequências na forma de filmes. Todos os filminhos de Muybridge ou Marey que vemos hoje em dia, são na verdade reconstituições de suas fotografias feitas por terceiros depois que morreram. Em vida, tanto Muybridge quanto Marey jamais viram suas sequências animadas do modo que muitas vezes assistimos na internet, em exposições sérias ou em documentários de boa procedência. O legado que deixaram para a história do pré-cinema foi o de conseguir fazer o registro do movimento e não a reprodução do movimento.
A questão da aposta
Não deixa de ser raro de ouvir que as fotografias sequenciadas de Muybridge foram motivadas para servir de prova para uma aposta. O dilema em questão seria se um cavalo retirava ou não as quatro patas do chão durante o galope. Ainda não foi encontrado nenhum documento que comprove essa versão e, além disso, hoje se sabe que no momento em que as fotografias foram realizadas por Muybridge, Marey já havia demonstrado a resposta correta. Em seu livro A Máquina Animal de 1873, Marey publicou os estudos comprobatórios sobre as diversas questões sobre o movimento dos animais, incluindo o dilema das quatro patas dos cavalos. Muybridge chegou a afirmar que o trabalho de Marey havia motivado o seu empenho em fotografar cavalos, e portanto é praticamente improvável que uma aposta tenha motivado essa questão.
O Mistérios dos Fios de Muybridge
Quando desafiado a fotografar cavalos em alta velocidade, Muybridge teve uma ideia pouco criativa, mas eficiente. Resolveu enfileirar uma série de câmeras fotográficas lado a lado e fazer com que fotografassem ordenadamente. Para cada câmera clicar no momento exato, amarrou um fio elétrico em cada uma delas de modo que cruzassem a pista por onde o cavalo iria cruzar e a medida que rompesse cada fio um sinal elétrico era enviado para a câmera afim fazer o registro. A descrição dessa técnica foi amplamente divulgada por Muybridge em vida e reproduzida por todas os estudos e pesquisas sobre ele. No entanto, um pergunta simples jamais foi feita: aonde estão os fios nas fotografias? Sugestões para essa resposta você pode encontrar no sexto vídeo do livro cujo conteúdo pode ser acessado clicando na foto ao lado ou fotografando seu qr code.
Entre Pássaros e Cavalos – Muybridge, Marey e o Pré-Cinema
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